Quais são os meus pontos cegos em liderança? Parte II

Ainda desligando o botão do automático, precisamos nos atentar em quais são os nosso traços de personalidade que permeiam no nosso dia a dia tanto na forma como nos energizamos, como tomamos decisões, como vemos as coisas a nossa volta e como nos organizamos. Por vezes, fazemos um alto julgamento dos outros, sem perceber e respeitar as pessoas como elas são, note que esta falta de percepção sobre como você funciona e sobre como o outro funciona pode prejudicar muita a sua liderança tanto pra cima, quanto para os lados e para baixo.

 

Quando entendemos nossos traços de personalidade e passamos a ver o outro com a lente do entendimento, tudo muda, passamos a respeitar mais as diferenças e mesmo a auxiliar as pessoas a performarem levando em consideração aquilo que funciona para o outro. Aliás, um grande ponto cego que temos é que muitas vezes acreditamos que aquilo que é verdade para nós, também é para o outro e isso é uma grande falácia.

Regular nossas lentes entre a percepção de quem somos e quem são os outros nos ajuda a elevarmos o nosso patamar de performance e diminuir nosso sofrimento pelas atitudes alheias.

Então vamos lá, primeiro quero despertar em vocês a necessidade em percebermos como você e as pessoas se energizam, isto é, se você e as pessoas sentem que podem entregar o melhor de si quando estão voltadas para o ambiente ou para si mesmas, e aqui temos os dois primeiros traços de personalidade que influenciam nossas atitudes.

Há pessoas, que se energizam com as outras pessoas, estas são aquelas que após um dia de trabalho exaustivo, se convidadas para um happy hour, vão felizes e contentes, já aquelas pessoas que são voltadas para si mesmas, se convidadas tendem a dizer não, obrigada! Enquanto uns vão se energizar com as pessoas, outros vão se energizar ficando sozinhos, quietos, lendo, assistindo TV. Então quando percebemos quais são os voltados para si e quais são as pessoas voltadas para o ambiente, acabamos entendendo que a não interação humana não é falta de empatia, nem arrogância, mas sim um traço de personalidade. Enquanto os voltados para o ambiente preferem se expor, falam mais que a boca, aliás, a boca chega antes do corpo e depois acabam se arrependendo daquilo que falam; os voltados para si, são mais profundos, ficam quietos, preferem não se expor como os voltados para o ambiente. Numa sala cheia, aqueles que são voltados para o ambiente trabalham e produzem muito mais, já os voltados para si preferem ter o seu cantinho. Aliás uma coisa interessante é que o sonho do voltado para si tem, é estar com os voltados para o ambiente, pois são estes que interagem com todo mundo e facilitam a socialização dos introvertidos.

Note que enquanto um é amplo, o outro é profundo. Assim, em ambiente de trabalho, faz-se necessário ”puxar”as coisas dos voltados para si, faz-se necessário perguntar, senão ele pode perder o timming… Temos muito a aprender com esta dicotomia: não é porque alguém é mais quieto que é antissocial ou que não está interessado nos projetos,precisamos aprender a usar a profundidade destas pessoas. E para os voltados para o ambiente, cuidado, ao falar pensando e pensar falando,muitos erros podem ser cometidos. Qual o pulo do gato: crie uma persona: persona nada mais é do que sua melhor versão em consciência, olhe para o ambiente, avalie se naquele momento requer uma pessoas mais ampla ou mais profunda, e decida ser aquilo que a situação necessita. Você verá que seus resultados serão diferentes.

Vamos entender mais uma dicotomia em traços de personalidade: algumas pessoas coletam informações pelos cinco sentidos e outras pelo sexto sentido, vamos entender isso; enquanto alguns de vocês coletam informações no dia a dia através das coisas práticas, daquilo que elas realmente são, nós temos um grupo que coleta informações através da imaginação, daquilo que as coisas podem ser, são os que eu chamo de cabeção, são as pessoas com forte tendência à inovação.

Vejam só, na liderança precisamos olhar para os lados para entender como as pessoas estão vendo as coisas, o que é para um, pode não ser para o outro…confusão! Então nada melhor do que você identificar aqueles que são práticos, que precisam dos dados e fatos para entender as coisas e aqueles que basta um ideia geral para que eles possam imaginar por si mesmo o que pode vir a ser.

Pense em você, gosta das coisas explicadinhas práticas, detalhadas é apaixonados por uma planilha Excel? Pensem que tem pessoas que amam o power point e são capazes de fazer as maiores analises nele, sem cálculos detalhados, pensem que há pessoas que tem preguiça dos detalhes….se seu chefe é da turma dos cinco sentidos e você leva informações gerais à ele, a resposta sempre será não, e vice versa, se seu chefe é da turma do sexto sentido e você ocupa o tempo dele com todos os detalhes possíveis e imagináveis, provavelmente ele vai atender telefone e ler e-mail enquanto você apresenta suas coisas…. Perceber como o outro coleta informações te traz maior velocidade em suas interações humanas, para isso, de novo, você precisa observar o meio ambiente, ser empático, desligar o automático e agir situacionalmente.

Outro ponto cego que temo, apresenta-se me nosso processo decisório, enquanto alguns de nós decide com o lado lógico e outros com o lado emocional. Veja que é de extrema valia perceber qual o seu lado fala mais alto e qual o lado das pessoas que trabalham com vocês que fala mais alto. No processo decisório, as pessoas emocionais vão sempre colocar as pessoas em primeiro lugar, para os racionais, ele vão colocar os processo em primeiro lugar. Vejam só, demitir uma gravida que não performa pode? Para racionais provavelmente sim, para emocionais provavelmente não. O pulo do gato é entender que os emocionais precisam perceber que estão sendo olhados, cuidados e que se você é o chefe dele, que você se importa não só com os resultados mas com ele também.

Para mover as pessoas emocionais basta você alinhar seu mindset primeiramente com gente; para mover as pessoas racionais, basta você alinhar primeiramente seu mindset com os negócios. Veja que interessante, enquanto para o racional tratar todos iguais é justo, para o emocional, tratar as pessoas personalizadamente é justo! Para o emocional, ter um bom ambiente é sine qua non, para o racional ter um bom ambiente é um plus.Viva a diversidade emocional!

O nosso último ponto cego diz respeito a como você se planeja e aqui tenho certeza que tem pessoas super organizadinhas que não entendem como as outras pessoas podem ser tão desorganizadas, e pessoas tão desorganizadas que não entendem como as outras pessoas conseguem viver num mundo tão arrumadinho….eu gosto muito de ilustrar esta dicotomia de traços de personalidade com as histórias de viagem, enquanto se eu te perguntar se você quer ir á Itália amanhã com tudo pago, você pode tanto dizer que sim, sem pensar em nada, ou você pode perguntar como arrumá sua mala de hoje para amanhã, onde pretendo te levar ou mesmo se eu sei quantas horas são de voo. Conheço pessoas que ao planejar uma viagem, começam fazendo um guia com seis meses de antecedência, sabem todos os pontos turísticos, todos os restaurantes e tem gente que até sabe os postos de gasolina do caminho e os preços da gasolina! Enquanto alguns não conseguem fazer as coisas sem planejamento, outros, fazem as coisas e depois pensam e planejam. O problema daqueles que não se atém ao planejamento, é que por vezes podem procrastinar as coisas.

Entender como o outro se planeja é essencial para que você não gaste energia nas cobranças, a diferença é que com aqueles que não se atém ao planejamento, você precisa estabelecer prazos mais curtos, acompanhar mais de perto e com o certinho basta combinar a data e a entrega será feita.

Estas são as quatro dicotomias de traços de personalidade que ficam no nosso ponto cego na liderança. Se entendermos que precisamos de Inteligência Emocional para construir e manter relações, afinal as pessoas trabalham para os seus chefes e fazem as coisas pelas pessoas e não pelos locais que trabalham, e se entendermos quem somos nós, como funcionamos e aprendermos a respeitar, entender e lidar com as diferenças, seremos seres humanos muito melhores e muito mais felizes. A diversidade comportamental torna-se um bônus pois você consegue sempre extrair o melhor de cada indivíduo ao trazer as diferenças para o nível consciente de atuação.

 

Tenha em mente que identificar os pontos cegos emocionais é uma
questão de dever para quem lida com pessoas!

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Livia Mandelli

“Dedicação genuinamente obsessiva para delinear e conduzir pessoas/grupos de pessoas em seus melhores e verdadeiros caminhos”

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